Texto retirado do Cineclick escrito por Heitor Augusto
"A cada vez que um filme com temática homossexual é exibido em algum festival de cinema, sempre fica a expectativa de qual será a reação da plateia. Vão dar risos nervosos? Sair porque acham ultrajante? Embarcar na história? Vaiar, aplaudir?
Toda vez que um filme de Daniel Ribeiro está na tela, os medos com uma generalizada reação intolerante vão para longe. Esse cineasta tem a habilidade de fazer filmes que unam questões importantes para o público gay e atravessar a ponte e conversar com aqueles que têm um tremendo pudor e receio em falar da temática homossexual.
Eu Não Quero Voltar Sozinho, largamente aplaudido na exibição de domingo (18/7) no Festival de Paulínia, mantém a coerência na trajetória de Daniel Ribeiro. Após vencer o Urso de Cristal do Festival de Berlim com Café com Leite, o diretor escreveu sobre a história de amizade de um trio de adolescentes: o cego Leo (Guilherme Lobo), a melhor amiga Giovana (Tess Amorim) e o novato no colégio Gabriel (Fabio Audi).
Amizade, amor, carinho, proteção, descoberta, adaptação, humanidade e perda andam juntas neste curta-metragem, em competição pelo Troféu Menina de Ouro. Um filme que trabalha em cima dos erros e acertos dos três personagens, da paixão que um une pelo outro.
Eu Não Quero Voltar Sozinho é um filme extremamente popular – no sentido positivo da palavra, tão utilizada como eufemismo de filme comercial ruim. Popular da mesma linha de É Proibido Fumar ou As Melhores Coisas do Mundo. Neste filme, Ribeiro faz um cinema fluido, de episódios da vida que, apesar de serem construídos para o cinema, são apresentados como algo natural. É vida que foi parar no cinema.
O curta foge de todas as armadilhas do politicamente correto ou das condenações. Mesmo porque o desconforto camuflado de quem assiste é antecipado pelos diálogos dos próprios personagens que, com fluidez cinematográfica, compartilham um pedaço de sua vida conosco.
Quem acha que esse garoto de 28 anos merece elogios apenas por trabalhar com uma temática que anda aos trancos e barrancos no cinema está enganado. Isso está em segundo plano para um diretor hábil em conduzir o espectador na história. Ele é bom mesmo! Com um pequeno detalhe: a matéria-prima de seu cinema é a humanidade/desumanidade das relações, que dá chão a personagens gays.
Daniel Ribeiro é um diretor promissor. Isso não significa que o único estilo para abordar personagens gays tem de ser delicado como Eu Não Quero Voltar Sozinho ou Café com Leite. Afinal, a agressividade também faz bem. Trata-se apenas de reconhecer que, quando a questão é um cinema que faz a ponte entre lá e cá, seu cinema é único.
O próximo passo é descobrir como Ribeiro, que nos curtas-metragens consegue parar o tempo e tornar particular a história de um ser humano qualquer, vai se sair quando dirigir o primeiro longa-metragem. Outra curiosidade é: seu cinema consegue falar de personagens que não são brancos de classe média?"
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